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O MAPa e a desterritorialidade:
do CCRU ao Xenofeminismo
Instructor: Jean-Pierre Caron Module: 1 Date & Time: Tuesdays - July 28, August 4, 18, 25 12 PM - 2:30 PM ET

MAP

Quero falar sobre os problemas que circundam o conceito de experiência. Mas começarei com uma genealogia aceleracionista, com a posição a partir da qual muitos de nós nos orientávamos nos anos 90, Nick Land, Landianismo. Era uma espécie de Hiper-Deleuzianismo, um Deleuzianismo Dark, mas que ainda era organizado ao redor do problema da experiência, eu acho. Podemos traçar isso de volta a Bataille, esse tipo de busca impossível da experiência não só maximamente intensa, mas, além disso, da experiência a partir de uma posição em que a própria experiência não é mais possível, isto é, da morte, da morte como limite.  

Penso que um dos movimentos cruciais dos últimos tempos foi o movimento contra a experiência, na verdade. Em vez de perseguir esta experiência impossível, apontar o contraste entre a cognição e a experiência. Assim, a morte – não apenas a individual, mas a hiper-morte, e não apenas o inexperienciável, mas a evaporação da possibilidade mesma da experiência, por meio da extinção –, passa a ser constrastada com a experiência. (….) A extinção se torna um desafio cognitivo e especulativo.” (Fisher, M. “Practical eliminativismGetting out of the face, again” In: Speculative Aesthetics. London, Urbanomic, 2014) 

Nesta citação, Mark Fisher traça uma importante transição ocorrida dentro de um certo contexto filosófico contemporâneo de língua inglesa: a transição entre uma concepção de experiência como a experiência do limite e uma concepção do limite como o limite da experiência, que permite sua descrição racional. Essa passagem pode ser vista seguindo o deslocamento do centro de gravidade da pesquisa filosófica de um grupo de pensadores que faziam parte do círculo mais amplo em torno do que foi chamado de CCRU – a Cybernetic Culture Research Unit (“Unidade de Pesquisa em Cultura Cibernética”), liderada por Nick Land e Sadie Plant – à recuperação de questões filosóficas relacionadas à representação e ao realismo no contexto do chamado Realismo Especulativo. Este curso pretende acompanhar algumas linhas dessa transformação através da leitura e comentário de textos selecionados, de modo a recolocar a questão da relação entre pensamento abstrato e experiência no contexto de uma alternância especialmente radical entre ambos os pólos. 

Além desse deslocamento do praticismo hipersticionalmente determinado (CCRU) para questões epistemológicas relativas à representação, e ontológicas relacionadas ao realismo (SR), uma mudança política é sentida em segundo plano – entre a imagem de um capitalismo que é ele próprio o motor de aceleração da destituição do humano e uma concorrente, em que o seqüestro deliberado desse processo por sujeitos coletivos é tematizado como uma tentativa de produzir uma ordem político-econômica para além do próprio capitalismo. O leitor pode reconhecer nessas duas imagens a transição da chamada aceleração de direita para o aceleracionismo de esquerda. 

Em quatro seções, pretendo oferecer uma introdução rápida e suja ao arco que vai do CCRU ao Aceleracionismo de Esquerda e ao Xenofeminismo para o público lusófono da The New Centre for Research and Practice. Dentro desse contexto de discussão em língua portuguesa, também procuraremos trabalhar textos produzidos por autores lusófonos que tratem dos problemas colocados por essa conjuntura recente do pensamento contemporâneo. 

Sessão 1. A CCRU e a sede de aniquilação
A primeira sessão pretende abordar brevemente alguns princípios do que a CCRU estava fazendo nos anos 90, lendo alguns de seus textos e recuperando seus pressupostos teóricos na história da filosofia – especialmente suas preocupações com a cibernética e o trabalho de Deleuze e Guattari. Seus compromissos com a atmosfera cultural da época (Jungle, Cyberpunk) são dignos de nota e devem ser mencionados, vinculando esta sessão à segunda, sobre Mark Fisher, que então possuía ampla produção como crítico cultural. 

Sessão 2. Fisher e racionalismo frio
Saindo das fileiras do CCRU em 2003, Mark Fisher começou a construir uma sucessão de diferentes programas de pesquisa: racionalismo frio, espectrologia, realismo capitalista como um problema e comunismo ácido como uma possível solução. Na segunda sessão do curso, examinaremos rapidamente as posições de Fisher que mais influenciaram ou refletiram as tendências a serem abordadas nas próximas sessões, a saber, racionalismo frio e comunismo ácido. Do racionalismo frio, tiraremos conclusões que se comunicarão com os problemas do realismo especulativo na sessão 3 e do comunismo ácido com aqueles que guiarão a reorientação esquerdista do aceleracionismo na sessão 4. 

Sessão 3. Realismo especulativo e o Fora
Em 2007, o colóquio chamado Realismo Especulativo foi realizado na Goldsmiths em Londres, reunindo quatro filósofos de orientação continental, interessados ​​na reabilitação do realismo filosófico. Entre estes estão ex-associados do círculo mais amplo da CCRU, como Iain Hamilton Grant e Ray Brassier. Seguindo a proposta para o “fim da experiência” anunciada no parágrafo de Fisher, esta sessão examinará brevemente as quatro orientações presentes no evento Goldsmiths, com ênfase especial no Nihil Unbound de Brassier e suas conexões com o After Finitude de Quentin Meillassoux e sua reformulaçãodo realismo filosófico em relação ao arqué-fóssil e à extinção como oportunidades para remodelar a imagem contemporânea do pensamento.   

Sessão 4. Mapeando o Futuro
O MAP-Manifesto para uma política aceleracionista é lançado em 2013 como uma resposta política a perguntas que vieram com a ala racionalista do realismo especulativo: a centralidade da razão, a análise sistêmica e a crítica da experiência local enquanto garantia de valência política que seus autores chamariam “folk politics” ​​(o qual tem um eco interessante na “folk psychology” criticada por Brassier a partir de Sellars e Churchland). Uma abordagem ao Manifesto Xenofeminista do coletivo Laboria Cuboniks complementa esta última sessão. 

 

Image: Bouchra Khalili, The Mapping Journey Project, 2008–11